Entrevista de Felipe Prince, sócio-economista da Agrosecurity, ao jornal BRASIL ECONÔMICO, citado no artigo abaixo:
Setor tem redução de 3% nas receitas e 5% em volume comercializado nos primeiros 10 meses do ano, frente a igual período de 2013. Estiagem no 1º semestre e ajuste nos preços das commodities estão por trás do resultado.
Após 13 anos de crescimento contínuo em volume exportado e faturamento, o agronegócio brasileiro registrou seu primeiro revés nas vendas no mercado internacional. Análise dos pesquisadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, mostra que o agronegócio perdeu fôlego em 2014 e registra retração de 3% nas receitas e 5% em volume exportado, de janeiro a outubro deste ano na comparação com igual período de 2013. A estiagem no primeiro semestre, combinadacom safras recordes nos Estados Unidos e o ajuste internacional dos preços das commodities estão por trás dos resultados pouco animadores, segundo especialistas.
Dados do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) confirmam a desaceleração do setor. De janeiro a outubro de 2012, o país exportou um montante superior ao ano anterior, totalizando 107,92 milhões de toneladas e uma receitadeUS$80,88 bilhões. Em igual período de 2013, bateu novo recorde. Foram negociados 126,16 milhões de toneladas, correspondendo a um faturamento de US$86,42 bilhões.
Agora, em 2014, o cenário é menos empolgante. Foram vendidos 121,56 milhões de toneladas líquidos e gerados USS 83,85 bilhões em receita. Para o analista da RC Consultores, Thiago Biscuola, muito mais que a queda no volume exportado afetado, em parte, pela estiagem o Brasil assiste a uma mudança no cenário global dos preços das commodities. “Há menor liquidez no mercado global e perspectiva de queda da cotação das commodities. O setor agro é um dos mais dinâmicos no Brasil e vai continuar sendo. Mas o momento de bonança, com cotações batendo recorde, como em 2000 e 2010, não vamos conviver mais”, avalia.
Pesquisadora do Cepea, Andreia Adami lembra que os meses de novembro e dezembro são conhecidos períodos de baixa exportação. Logo, os dados coletados nos primeiros 10 meses do ano são suficientes para atestar que as exportações brasileiras não fecharão 2014 com bons resultados. Segundo Adami, o maior peso para o resultado negativo vem do setor sucroalcooleiro, que apresenta queda tanto em volume exportado, quanto dos preços recebidos pelos exportadores na comparação com igual período de 2013.
“O açúcar registra retração de 12% em volume e 10% em receita. A estiagem quebrou a safra e tivemos menos produtos no mercado para venda. Mas, ao mesmo tempo, os estoques estavam elevados, em função das duas últimas boas safras. A boa disponibilidade de produtos no mercado mexe com os preços, que vem se mantendo em baixa”, explica Adami.
Já o etanol tem queda de 55% em volume, mas ganhou 1,6% em faturamento. A forte retração está ligada à recuperação da safra americana de milho. “Grande produtor de etanol à base do grão, os Estados Unidos deixaram de comprar parte do etanol brasileiro e também do milho, depois que sua produção se regularizou”, explica analista da Agrosecuirty, Felipe Prince.
Em 2012, os Estados Unidos colheram 273,2 milhões de toneladas. Agora em 2014, a safra alcançou 366 milhões de toneladas. “Com mais milho no mercado, a cotação do grão despencou e impactou as exportações”, diz Prince. Em termos de faturamento, o milho registrou retração de 22,8%. Já em volume exportado a queda foi de 27,3%.
O suco de laranja também teve as exportações reduzidas. A queda é da ordem de 6,9 % em volume e 6,6% em receita. A seca, que atingiu fortemente São Paulo, principal região produtora, explica a retração nas vendas. No entanto, o produto já vem perdendo mercado há alguns anos em função da concorrência com outros tipos de bebidas.
Na contramão do cenário de retração aparece o café. Responsável por 50% da produção mundial, o Brasil viu parte considerável de sua produção se perder com a seca. Mas a quebra da safra alavancou o preço do produto no mercado internacional, trazendo bons resultados para as exportações. “Com a normalização do plantio, há aumento de 16 % do volume embarcado. Em termos de receita, aumentou quase 2%”, destaca Andreia Adami.
Fonte: BRASIL ECONÔMICO.
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