Boletim Agrofinanças | nº 27 | Julho | 2010

 

Milho: avanço da tecnologia BT

Apesar da redução na área de milho na Safra Verão 2009/10 (15,3% em relação à safra anterior, segundo dados da CONAB), o Brasil observou um significativo aumento da produtividade da cultura em relação às safras anteriores. Segundo levantamento do própria CONAB, a produtividade do Milho Verão no ciclo 2009/10 foi de 4.438 quilogramas por hectare, o que 
representa incremento de 4,6% sobre a produtividade obtida na Safra 2007/08 que, até 2010, havia sido o ano de melhor desempenho produtivo do cereal no país.
A produtividade recorde obtida na Safra 2009/10 pode ser atribuída primeiramente às condições climáticas, que foram favoráveis nas principais regiões produtoras do grão no país, a saber, Paraná, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Goiás e Bahia. Nesse ano, não tivemos problemas de estiagem no sul do Brasil, como ocorrera na Safra 2008/09, que provocou perdas de 30,0% na produtividade potencial da cultura.
 
Outro fator de grande importância para o aumento da produtividade, e que queremos destacar no Boletim Agrofinanças, é o aumento da tecnologia aplicada às lavouras, traduzido principalmente pelo avanço do cultivo do Milho BT - milho geneticamente modificado - e de maior resistência à lagarta do cartucho, praga de elevada importância para a cultura.

Segundo estimativas da Associação Brasileira de Sementes e Mudas (ABRASEM), a proporção de Milho BT cultivado no Brasil na Safra Verão 2009/10 foi de aproximadamente 40,0% da área da cultura. Para a Safra Verão 2010/11, apesar de as vendas de sementes de milho apresentarem baixa evolução (vide dados no gráfico abaixo), há expectativa de que a proporção de área cultivada com a tecnologia represente entre 60,0 e 70,0% do total da cultura no país.



GRÁFICO 1. Evolução de venda de sementes de Milho Verão 2010/11




Fonte: www.climasecurity.com.br (atualizado em 01/07/2010)



Através de levantamentos de intenção de plantio junto a distribuidores de insumos e produtores agrícolas, a Agrosecurity observa que a proporção de área pode atingir os seguintes patamares:


GRÁFICO 2. Intenção de adoção de tecnologia de Milho BT




Fonte: www.climasecurity.com.br (atualizado em 01/07/2010)



O iminente avanço do milho BT no Brasil na Safra Verão 2010/11 é justificado pela maior produtividade* obtida e facilidades de manejo (diminuição da necessidade de aplicação de inseticidas) em relação às variedades de ciclo convencional. Apesar do maior custo de aquisição das sementes de tecnologia BT, que chegou a representar R$ 230,0 a mais por hectare em algumas localidades na Safra Verão 2009/10, os produtores apresentam menor dispêndio com aplicação de inseticidas.

*É importante salientar que o ganho obtido tem a ver, de forma direta, pela redução das lesões causadas pela lagarta do cartucho e, de forma indireta, pela menor incidência de doenças fúngicas e virais que, nas plantas desprotegidas e lesionadas, penetram por essas portas de entrada e reduzem o seu potencial produtivo. A intensidade do ataque da lagarta do cartucho é determinada, em grande parte, pelos períodos de estiagem prolongada.  

Segundo dados da Agrosecurity, na Safra Verão 2009/10, a diferença de produtividade em alguns municípios levantados apresentou média de 13,0 sacas por hectare a favor da tecnologia BT. Em função dessa diferença e, mesmo com os custos de produção mais elevados, constatamos que o retorno econômico (markup) do cultivo dos híbridos BT foi maior que o dos seus concorrentes convencionais, como demonstrado na tabela abaixo. Esses dados justificam, do ponto de vista de gestão econômico-financeira do produtor, a intenção de avanço da tecnologia BT no próximo ciclo:


TABELA 1. Resultado Econômico do Milho Verão 2009/10 (BT x Convencional)




Fonte: www.climasecurity.com.br (atualizado em 01/07/2010)


Em relação à Safra Inverno 2010, cujos principais estados produtores são Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná e Goiás, também observamos forte aumento da participação do milho BT em relação ao ciclo anterior. No Paraná, onde o preço pago pelo cereal é maior (em junho/10, chegou a representar R$ 7,0 a mais por saca em relação a algumas praças no Mato Grosso), os produtores verificam maior benefício no cultivo do cereal geneticamente modificado, já que o retorno da maior produtividade a favor do milho BT pode ser mais facilmente convertido em uma maior Receita Operacional por unidade de área cultivada.

No município de Medianeira, no sudoeste do PR, por exemplo, a proporção de área cultivada com milho BT na safrinha 2010 foi de 81%, o que representa aumento de 32 pontos percentuais em relação à safrinha 2009. Já em Londrina/PR, a proporção de milho safrinha BT cultivada em 2010 foi de 71%, contra 46% cultivado em 2009.

Em MT e GO, a proporção de área adotada com o Milho BT foi menor, em função do menor preço pago pela saca de milho. Em Rio Verde/GO, por exemplo, a área adotada com o cultivo do BT representou 46,0% do total de milho cultivado no município em 2010.

Quanto a Lucas do Rio Verde, no norte do MT, a área adotada com milho BT representou apenas 19,0% da área cultivada da cultura. Conforme afirmamos anteriormente, as localidades em que o preço pago pelo produto é menor, verificou-se menor avanço da tecnologia, em função do retorno econômico inferior através do efeito produtividade. 

Já no sul do MT, no município de Primavera do Leste, como os preços pagos são maiores que a região norte do estado (em 2010, em alguns momentos, a diferença chegou a R$ 3,5/saca), observou-se maior avanço do milho BT, que representou 69,0% da área da cultura em 2010.
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Troca & Securitização

As operações de cessão de crédito dominaram o cenário de negócios, com evolução até mesmo nas empresas do middle, que passaram a contar também com essa alternativa. Embora muitos ainda confundam cessão de crédito com “troca”, é o resultado que vale.

A safra 2009/10 termina com pleno êxito na liquidação física das contas indexadas em grãos e fibras, com poucos casos de default motivados por quebra de safra. Salvo no Piauí, onde a coisa não andou muito bem, nas demais regiões, a situação foi normal.

Já na safrinha, podemos ter algumas limitações de entrega com o algodão, que pode gerar problemas de delivery ou de qualidade,  nos vencimentos de Agosto e Setembro/10, em função da expectativa de relativa quebra de safra no MT. Nesse estado, a falta de precipitação no período de formação das “maçãs” (pluma) do algodão comprometeu a produtividade, que deve ser menor nesta safra, em comparação a anterior, por volta de 15%. Em casos pontuais, essa quebra pode chegar a 25-30%, onde o plantio tardio foi mais representativo. Olhando para uma perspectiva de gestão de carteira, os problemas mais severo ficarão limitados a algumas lavouras, sem grande preocupação para o credor ou o off taker.

No café, os problemas devem ficar por conta da qualidade, já que a colheita deve ser boa e não há justificativas para qualquer problema de entrega em escala.  

Cenário 2011:

Quem fixou a soja antes de abril/10, deu um passo importante para uma safra razoável, sem grandes alegrias, mas com um resultado sustentável. Na soja, tivemos mais procura por prefixação e troca para 2011 do que no ano passado. Isso influenciou, em parte, até uma menor procura pelo pré-custeio do BB no cerrado. No PR e, até no RS, também houve mais procura por operações de troca. 
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Crédito & Recebimento


Nas operações de liquidação financeira, a queda da renda no segmento de grãos (que declina há três safras) vem mostrando sinais para os credores de menor porte e/ou de insumos não essenciais. Nesses credores, os problemas em MAPITO e no MT foram mais significativos e geraram um sinal de alerta para o que pode vir em 2011.

Já na Safra Inverno, a situação muda um pouco de figura, já que temos uma quebra associada aos baixos preços para o milho no MT e GO e a estimativa de default está um pouco mais alta para os vencimentos dessa cultura.

Nesse caso, é importante salientar que uma avaliação de risco deve mensurar o % que o produtor direciona para o Algodão Safrinha X Algodão Verão, pois o algodão do cedo colheu bem e tem preços excelentes. De maneira geral, a cultura do algodão vai muito bem e deve cumprir os seus compromissos na maioria dos casos.  É importante destacar que os preços geram um bom colchão para suportar esse nível de perda.
 
A perspectiva da Safra 2011, para a cultura da soja, melhorou na última semana revertendo uma expectativa de queda em uma eventual colheita normal nos EUA. O problema da seca e altas temperaturas no final do ciclo pode comprometer parte da produção americana. Os preços de CBOT ganharam pelo menos 80 cents/bu nos últimos 5 dias elevando o contrato de maio para o patamar dos US$ 9,7/bu. Considerando o baixo comprometimento de venda da safra 2011, a projeção de liquidez futura para os produtores melhorou. É importante salientar que o mercado está em um momento crítico, e pode subir ainda mais se o cenário persistir. Uma definição menos especulativa em CBOT deve ocorrer apenas no início de Agosto quando a safra estará saindo o risco de perdas adicionais.

Apesar da recuperação recente nos preço da soja para 2011, há sinais de redução de tecnologia, sobretudo em casos pontuais no Cerrado, onde é possível a diminuição de 50 a 100 Kg/ha no adubo formulado. Até o momento, nada que preocupe, mas já há sinais de que as contas estão ficando apertadas. A safrinha de milho 2010 não gerou renda. Pelo contrário, está prejudicando o resultado consolidado da Safra 2009/10 (Verão + Inverno) dos produtores e, no caso específico do MT, deverá reter seu caixa em um estoque que parece interminável. Nesse estado, esse quadro exige um pouco mais de atenção na avaliação do risco para a próxima safra, uma vez que o clima passará a ser um importante elemento de acompanhamento para as empresas que operarem mais expostas. 

Por outro lado, apesar de uma maior imobilização de caixa no estoque do milho, o MT é o mercado com a melhor perspectiva de médio-longo prazos e, sob o ponto de vista comercial, vale a pena manter o market share, mas considerando uma reserva adequada. 

No caso do Algodão, por enquanto, temos céu de brigadeiro para 2011 e, numa visão simplista e generalizada, nos parece que quem sobreviveu até o momento à crise que se abateu sobre essa cultura nos dois anos anteriores, não terá dificuldade para saldar as contas no próximo ano. É claro que isto é uma tendência e recomendamos que as análises sejam feitas com critério, mas o estigma que vinha pontuando os analistas de risco em relação à cultura do algodão nos últimos anos pode ser deixado de lado nessa safra.
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Dinâmica dos Preços


   Fonte: Cepea/Esalq

ALGODÃO

Apresentou alta de 8,86% entre a segunda semana de junho e a segunda semana de julho. O atraso na colheita resultou na redução da oferta deste produto, simultaneamente a uma alta na demanda pela commodity. O aumento da demanda ocorreu principalmente devido às compras no mercado spot para reposição dos baixos níveis de estoque. A CONAB estima que o estoque final da Safra 2009/10 seja de 318 mil toneladas, sendo que nas safras passadas os estoques ficaram entre 430 e 600 mil toneladas. Também existe uma perspectiva de queda de produtividade do algodão safrinha no MT, o que sustenta a alta no mercado interno.

MILHO

O cereal acumulou queda de 7,89% nos últimos 30 dias (entre a segunda semana de junho e a segunda de julho), atingindo a cotação de R$ 18,33/saca em campinas. Com o avanço da colheita do milho safrinha e a falta de espaço nos armazéns, especialmente em GO e MT, houve aumento da oferta de milho, que combinado com uma demanda estável, acabou ocasionando uma redução de preços.
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Câmbio


                                          Fonte: Bacen



O Dólar apresentou uma leve desvalorização no período analisado, especialmente a partir da última quinzena do mês. Essa desvalorização foi acompanhada por um período de valorização no mercado de ações brasileiro, que chegou a 3,81% até o dia 28 de junho. No dia 29, após a reunião do G-20, no entanto,
a BOVESPA registrou perdas novamente, de até 3,5% em único dia, em função das notícias de planejamento de cortes de gastos e investimentos em escala mundial.

No Brasil, em 10/junho, o Comitê de Política Monetária do Banco Central elevou a taxa básica de juros da economia para 10,25% a.a. (no início de 2010, a taxa estava em 8,75% a.a.). Esse aumento foi justificado por uma preocupação maior com o processo inflacionário, calcado principalmente sobre os preços das commodities.

Nesse aspecto, a inflação é um assunto preocupa os formuladores de política econômica em diversas partes do mundo, especialmente nos países desenvolvidos. Em seu relatório de abril/10, o FMI anunciou uma previsão de taxa de inflação mais elevada para quase todos os países em 2010 em comparação a 2009. Como medida preventiva, uma das recomendações acordadas pelo G-20 é de que os governos diminuam os gastos públicos, com o intuito de desaquecer a economia mundial e, assim, gerar menor pressão sobre a demanda.

Segundo alguns economistas (como Paul Krugman, em artigo publicado no The New York Times em 29 de junho), essa medida pode ser um “tiro no pé”, já que a Europa e os EUA encontram-se em processo de recessão e, nesse contexto, um corte de investimentos públicos corroboraria para um aprofundamento da crise e, considerando-se um cenário mais pessimista, poderia até provocar uma terceira depressão econômica.

Em relação ao mercado cambial brasileiro, alguns analistas acreditam que, no final do ano, a taxa de câmbio esteja em R$ 1,80/dólar. Já no final de 2011, a projeção, segundo a última publicação do Boletim Focus do Banco Central é de que o Real esteja no patamar de R$ 1,85/dólar.

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Viabilidade & Liquidez






 
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Jurídico

Tribunal concede recuperação judicial a agricultor paulista

Decisão da Justiça é inédita; em dois anos, produtor acumulou dívida de R$ 2 milhões com bancos e credores


(Texto de 04/05/2010, Chico Siqueira, ESPECIAL PARA O ESTADO, ARAÇATUBA - O Estado de S.Paulo)


Em uma decisão inédita, o agricultor Milton Garção, de Jales, no extremo noroeste de São Paulo, tornou-se o primeiro produtor rural a ter um pedido de recuperação judicial concedido. A decisão foi do Tribunal de Justiça de São Paulo, que aceitou o pedido de recuperação feito pelo produtor, que em dois anos de crise financeira acumulou R$ 2 milhões em dívidas com bancos e cerca de 100 credores.

O advogado Sérgio Emerenciano, que defende o produtor, diz que seu cliente é o primeiro agricultor beneficiado pela recuperação judicial no País, embora haja pedidos em tribunais de outros Estados e em fase de recurso em Brasília. Até agora, a recuperação só era concedida a empresas e comerciantes, e raramente a pessoas físicas.

"O produtor vende, compra, emite nota fiscal, mas não era considerado até agora uma empresa, e por isso a Justiça negava a ele a concessão da recuperação judicial", diz Emerenciano.

Segundo o advogado, por não ter registro na Junta Comercial, os produtores não são considerados empresas, embora na prática, tenham o mesmo papel de uma. "A crise internacional ajudou na decisão do TJ por se tratar de um fato que atingiu a todos, desde as multinacionais ao pequeno produtor rural."

De acordo com o advogado do agricultor, a decisão abre precedente e escritórios já estão usando o mesmo argumento para reivindicar a concessão para outros produtores.

Venda de gado. Parte das dívidas de Garção, segundo Emerenciano, foi provocada pela venda de gado a dois frigoríficos - um do grupo Arantes Alimentos e outro do Estrela Alimentos, que, por causa da crise, também entraram em recuperação judicial. Outra parte das dívidas foi causada pela queda de preços do suco de laranja, também provocada pela crise internacional.

"As vendas do suco foram a zero no exterior e, no mercado interno, a caixa da laranja despencou de preço, enquanto os preços dos insumos explodiram", lembra Garção, dono de uma fazenda em Goiás e de um sítio em Jales, interior de São Paulo.

"Outros prejuízos foram com o leite, cujo preço não compensava os custos de produção", afirma o produtor. Além disso, as dívidas com bancos para financiamento da produção continuaram vencendo e foram inflacionadas pelos juros.

De acordo com Emerenciano, o TJ concedeu a recuperação em dezembro, mas ele decidiu divulgar o fato só agora para evitar que credores pudessem contestar o pedido. Uma assembleia com os credores está marcada para o próximo mês.

No Plano de Recuperação, Garção apresentou diversas formas de pagamento para cada tipo de credor. Pelo plano, chamado de híbrido, o pagamento levaria de 6 meses a 24 meses de prazo para ser iniciado.

PARA ENTENDER

O advogado Sérgio Emerenciano se baseou em dois artigos do Código Civil para enquadrar seu cliente na lei 11.101 de 2005, que disciplina a recuperação judicial no País. Pela lei, têm direito à recuperação judicial os empresários e sociedades empresariais. Para convencer o TJ de que o produtor rural é empresário, o advogado usou o artigo 966, que cria a figura do empresário como sendo a pessoa "que exerce como profissão a atividade econômica organizada para a produção ou para a circulação de bens e/ou de serviços".
 
"Como o produtor, vende, compra, emite nota fiscal, ele é empresário na prática", diz o advogado. Já o artigo 971 permite à pessoa que tenha atividade rural como principal profissão registrar-se como empresa em Junta Comercial.

Diante do exposto, pode-se afirmar que o judiciário brasileiro, seguindo a tendência internacional, têm prestigiado o princípio contratual do pacta sunt servanda, de forma a manter os contratos vigentes e eficazes, e evitar a criação de um ambiente jurídico inseguro nas relações comerciais, em especial, diante de um setor cada vez mais profissionalizado e que têm, hoje, instrumentos eficazes de gestão de riscos, como o agronegócio brasileiro.


Nota: A Agrosecurity não se responsabiliza pelo uso indevido do conteúdo do Boletim para efeito de definição de limite de créditos individuais ou da exposição financeira regional. Por se tratar de uma avaliação do quadro geral (médio) dos aspectos econômicos e financeiros, pode haver divergências significativas da situação real de liquidez e viabilidade de um produtor rural em particular

 Editorial
   Texto: Fernando Pimentel   Câmbio: Felipe Prince     Edição: Luis Eduardo Rebolo Lapo






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